sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Programação Setembro de 2010 - SEMPRE ÀS 18 HS - TORRE ON - MORADIA UNICAMP

 12/09 – Flor do deserto. DRAMA. Reino Unido, 2009. Direção de Sherry Horman. 120 min.




Sinopse: Waris Dirie (Soraya Omar-Scego / Liya Kebede) nasceu em uma família de criadores de gado nômades, na Somália. Aos 13 anos, para fugir de um casamento arranjado, ela atravessou o deserto por dias até chegar em Mogadishu, capital do país. Seus parentes a enviaram para Londres, onde trabalhou como empregada na embaixada da Somália. Ela passa toda a adolescência sem ser alfabetizada. Quando vê a chance de retornar ao país, ela descobre que é ilegal da Somália e não tem mais para onde ir. Com a ajuda de Marylin (Sally Hawkins), uma descontraída vendedora, Waris consegue um abrigo. Ela passa a trabalhar em um restaurante fast food, onde é descoberta pelo famoso fotógrafo Terry Donaldson (Timothy Spall). Através da ambiciosa Lucinda (Juliet Stevenson), sua agente, Waris torna-se modelo. Só que, apesar da vida de sucesso, ela ainda sofre com as lembranças de um segredo de infância.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=eJ8XlBbX-xo

Critica: Rubens Ewald Filho. Disponivel em http://noticias.r7.com/blogs/rubens-ewald-filho
Existem temáticas tão fortes, que para não serem rejeitadas pelo público, precisam estar vestidas de uma aparência mais suave, mais palatável.

É o caso desta interessante versão de um best-seller de Waris Dirie, que ao passar para o cinema pelas mãos de uma americana radicada na Alemanha, Sherry Horman (tem 17 outros trabalhos para a TV e cinema mas é desconhecida aqui), precisou de uma embalagem sofisticada e romântica.
Algumas vezes já ouvimos falar da absurda e revoltante prática de certas nações, no caso, a Somália, que quando uma criança feminina tem três anos de idade, é levada para encontrar uma mulher que lhe corta, ritualisticamente, o clitóris e costura a vagina, de forma que ela só poderá ter relações com o marido, que terá que usar uma faca e nunca poderá ter prazer sexual.

Quando são obrigados a voltar ao país, ela foge novamente e vai vivendo nas ruas até conseguir fazer amizade com uma inglesa vendedora de loja de sapatos, feita por Sally Hawkins, que faz tudo muito parecido com o filme anterior dela, Simplesmente Feliz.

Aos poucos vão se revelando seus segredos e ela consegue impressionar um famoso e excêntrico fotógraf(Spall, outro da turma de Mike Leigh), que a leva para uma carreira de modelo, com as dificuldades com passaportes, vistos e tudo o mais, levadas como comédia.
A história de sua castração vai ficar para o final, porque se não tivesse esse jeito de conto de fadas seria quase insuportável. Mas é uma denúncia importante de existir e acontecer, tão estúpida que é difícil de acreditar. Por isso mesmo que este Flor do Deserto é importante e deve ser apoiado.

Mas pela primeira vez, ao menos no cinema comercial, se conta esta história a partir da vida real de uma negra alta e bonita. Waris, que é vivida por uma modelo, belíssima, chamada Liya, que vem da Etiópia, já esteve em O Senhor da Guerra e O Bom Pastor e é modelo de sucesso. Aliás, uma escolha perfeita para o papel.
Além de tudo, ela é boa atriz, natural, espontânea e faz tudo certo. Acontece que Waris conseguiu fugir de casa - e de um casamento arranjado com um homem mais velho - e ir trabalhar com parentes distantes, como serva de uma família que vivia na Inglaterra, como diplomatas



19/09 – Noticias de uma guerra particular. DOCUMENTÁRIO. Brasil, 1999. Direção de João Moreira Salles e Kátia Lundu. 57 min.




Sinopse: Retrata o cotidiano dos moradores e traficantes do morro da Dona Marta, no Rio de Janeiro, em Notícias de uma Guerra Particular. Resultado de dois anos de entrevistas (entre 1997 e 1998) com personagens que estão de alguma forma envolvidos ou vêem de perto a rotina do tráfico, o documentário contrapõe a todo o momento as falas de traficantes, dos policiais e dos moradores. Notícias de uma Guerra Particular traz cenas desconcertantes, como o garoto de dez anos que diz ter prazer em estar perto da morte, o policial que se orgulha em matar, e as crianças que sabem de cor os nomes das armas e suas siglas.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=zp7KVlft-54

Critica: Marcelo Janot - 14/12/2005. Disponivel em http://www.criticos.com.br/
No momento em que o Rio de Janeiro vive a maior crise de violência de sua história, chega às locadoras um DVD que talvez possa ser considerado um dos lançamentos cinematográficos mais importantes do ano: antes restrito a exibições muito esporádicas, o documentário Notícias de Uma Guerra Particular, de Katia Lund e João Moreira Salles, realizado em 1998/99, agora está disponível para aqueles que quiserem entender um pouco mais a fundo porque vivemos à mercê do medo e da insegurança, no meio de um triângulo nefasto composto por políticos demagogos, polícia corrupta e bandidagem inescrupulosa.

A “guerra particular” a que o título se refere, extraído de uma frase do ex-capitão do BOPE Rodrigo Pimentel, é o combate sem trégua entre policiais e traficantes nas favelas cariocas. O filme, realizado sob encomenda da TV francesa, causou impacto na época em que foi lançado por permitir que o espectador do asfalto tivesse acesso ao que se passa no morro sem a abordagem sensacionalista e maniqueísta oferecida pelos veículos de imprensa. Katia e João ouviram do já citado capitão do BOPE ao gerente de tráfico do Morro Dona Marta, Adriano. Depoimentos como o de Gordo, um dos fundadores do Comando Vermelho, de Paulo Lins (em sua primeira entrevista, muito antes do sucesso de Cidade de Deus) e do chefe da Polícia Civil, Helio Luz, traçam um histórico do desenvolvimento do tráfico nas favelas e como ele se encaminhava rumo à barbárie que vemos nos dias de hoje.
Embora algumas das imagens (muitas de arquivo de TVs ou emprestadas de outros documentários) impressionem, como a do jovem soldado do morro apresentando sua farta artilharia, ou a do confronto entre policiais e traficantes à luz do dia, é nos depoimentos que reside a força de Notícias de Uma Guerra Particular, e que infelizmente nos faz perceber, seis anos depois, que não é com atitudes desesperadas tipo blindar o carro ou defender o porte de armas que vamos viver num Rio de Janeiro mais seguro.
Os extras do DVD incluem a ótima faixa de comentário, em que é possível rever o filme e entender a estrutura e os bastidores do documentário com Katia Lund e João Moreira Salles respondendo as perguntas inteligentes do cineasta Eduardo Coutinho e do nosso companheiro de Críticos.com.br, Carlos Alberto Mattos. Estão presentes também a íntegra de algumas entrevistas realizadas para o filme, inclusive a do General Nilton Cerqueira (que ficou de fora), com destaque absoluto para a do músico, “filósofo” e morador da favela Adão Xalebaradã, que virou até tema de curta-metragem do irmão de João, Walter Salles.
Como se isso tudo não bastasse, o filé mignon vem agora: o DVD traz também o documentário Santa Marta: Duas Semanas no Morro, de Eduardo Coutinho, rodado em 1987. Comparando os dois filmes (que têm um intervalo de 11 anos) e os dias de hoje, é assustador ver como a situação se deteriorou. O vídeo de Coutinho deixa muito claro como a força que o tráfico adquiriu nos dias de hoje se deve, em grande parte, à deterioração da relação entre a polícia e os moradores da favela. Se há quase 20 anos, como mostram os depoimentos dos favelados, a polícia já cometia todo tipo de abuso contra os moradores do morro, não é de se estranhar que ao longo desse tempo os traficantes tenham assumido o papel de “defensores da comunidade”, e essa evolução está bem clara nos dois documentários.
Ao mostrar o cotidiano dos moradores da favela, Santa Marta: Duas Semanas no Morro nos revela um período em que quase não se falava da presença de traficantes e “chefes do morro”, como se eles simplesmente não existissem. O foco das reclamações dos moradores estava no tratamento ruim que eles recebiam da polícia em suas incursões ao morro e também na esperança de um futuro em que as desigualdades entre a favela e o asfalto fossem um pouco menores. Um jovem franzino de olho meio puxado elogiava as meninas do morro, mais “liberais”, e reclamava que gostaria de ser desenhista profissional “caso as universidades dessem chance aos pobres”. Este mesmo jovem se transformaria alguns anos depois em Marcinho VP, chefe do tráfico do Dona Marta, e foi com ele que João Moreira Salles conversou e pediu autorização para poder rodar Notícias de Uma Guerra Particular. Acreditando que Marcinho ainda poderia se regenerar e voltar a ser aquele de 1987, lhe ofereceu uma bolsa mensal para que ele escrevesse um livro e largasse o tráfico. O livro nunca foi escrito, Marcinho foi preso e em 2003 foi encontrado morto dentro de uma lixeira no presídio de Bangu 3, onde cumpria pena.



26/09 – Alice no País das maravilhas. AVENTURA. EUA, 2010. Direção e Tim Burton. 108 min.




Sinopse: Diferente da história já conhecida, dessa vez Alice (Mia Wasikowska), ao 17 anos, vai a uma festa vitoriana e descobre que está prestes a ser pedida em casamento perante centenas de socialites. Ela então foge, seguindo um coelho branco, e vai parar no País das Maravilhas, um local que ela visitou há dez anos, mas não se lembrava. Lá conhece personagens como os irmãos gêmeos. Tweed le-Dee e Tweedle-Dum, o Gato Risonho, a Lagarta, toma chá com a Lebre Maluca e o Chapeleiro Louco e participa de um jogo de cricket com a Rainha de Copas.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=uJqMRLFezbo&feature=related

Critica por Demetrius Caesar, em 09/03/2010. Disponivel em http://www.cineplayers.com/
Alice no País das Maravilhas não é o grande filme que muitos gostariam porque o diretor Tim Burton nunca foi muito bom em narrar histórias. Seus filmes em geral têm roteiros ruins e a ação não é seu forte, mesmo que algumas obras, como Edward Mãos de Tesoura, as tramas sejam belas. Ao contar a superconhecida história de Alice, as cenas de ação não funcionam e o final, com Alice tendo de matar um monstro gigantesco, Jabberwocky, simplesmente não convence - mas, sinceramente, quem se importa?

Em alguns momentos, os dois universos, de Lewis Carroll e de Tim Burton, unem-se de maneira interessante. Só não vá esperando os maneirismos, as facilidades, os reducionismos e os clichês de um James Cameron em Avatar ou mesmo o gótico anódino e asséptico da Hogwarts de Harry Potter. A Wonderland de Tim Burton não é aprazível nem foi feita para agradar. Alice dificilmente encontrará lá um ambiente idílico e propício para a fuga: seus melhores amigos são seres para lá de bizarros, na maioria das vezes viciados. Caberá a Burton humanizá-los, e essa é uma das melhores coisas do filme.
Helena Boham Carter e o gato de Alice, Cheshire, são os maiores destaques. No caso do gato, é o melhor que o 3D trouxe ao filme. Tim Burton, desconfiado da nova tecnologia, não quis filmar com as famosas câmeras 3D de Avatar e Os Fantasmas de Scrooge (de Robert Zemeckis). Fez tudo no tradicional e depois convertou o resultado final. Talvez por isso por vezes a tecnologia atrapalha mais do que ajuda na narrativa e em muitos casos, bastante óbvia, incomoda. Nesse caso, a imersão de Avatar faz mais sentido: o 3D, pelo menos por enquanto, funciona melhor em filmes que envolvam lutas, explosões, guerras – o chamado "cinema físico.
Na adaptação, feita por Linda Woolverton, roteirista de A Bela e a Fera e O Rei Leão, a maior mudança é a idade da protagonista, agora com 19 anos. É um dos grandes acertos do filme, pois o livro é visto por muitos como cheio de insinuações à pedofilia (Lewis Carroll era fotógrafo e adorava registrar garotinhas). Esse tipo de peso poderia arruinar a obra. Tim Burton deixou as muitas insinuações aos alucinógenos, seja no fumacê que Absolum, a larva azul sábia (voz de Alan Rickman), solta sem parar, seja nas poções e chás esquisitissímos tomados pelos personagens.
Helena Boham Carter, com sua cabeçona (interpretava sempre para uma câmera especial para deformar sua figura), tem o melhor da animação, da computação gráfica e dos efeitos especiais em si e ao seu lado. Tim Burton, seu marido, com quem tem dois filhos, utilizou vários processos de animação, mesmo com massinha, para compor a aberrante corte da Rainha (mistura da Rainha de Copas, de As Aventuras de Alice nos País das Maravilhas, e a Rainha Vermelha, de Alice Através do Espelho, a continuação do primeiro livro – em ambos é baseada a história).
Burton disse ter visto mais de 60 versões, entre filmes, seriados ou quadrinhos, de Alice nos seus 55 anos de vida. Reclama que a maioria não funcionou justamente por serem muito apegadas ao original e muito "literárias". Preferiu propositalmente apegar-se aos personagens e dar-lhes sua visão pessoal. Pode ser que a fraqueza do filme esteja aqui, ao não focar na narrativa, mas é com certeza um de seus pontos fortes também: a maneira como Burton apresenta todos, sempre compreensivo e interessado, mostrando as bizarrices sem nenhum constrangimento, como os mortos de A Noiva Cadáver, perfeitamente bem no que restou de suas peles. E Johnny Depp ajuda, com seu misto de ternura e loucura, nesse processo de humanização.
Burton prefere os diferentes. Injeta neles uma carga de humanidade que os tira dos estereótipos. Neste Alice in Wonderland, dá contornos impensáveis seja até mesmo para a imaculada Rainha Branca (Anne Hathaway). Seus monstros têm coração, seus loucos, lucidez. Se a Rainha Vermelha é má é porque sofre de solidão e pelo fato de negar sua condição física. Os outros personagens não têm esse tipo de problema – riem de si próprios e suas limitações.
Como já notou parte da crítica, de todos os personagens, justamente Alice é que teve o desenvolvimento menos satisfatório. Em pânico por ter de se casar, Alice foge e mais uma vez cai na toca do coelho. Durante sua estadia em Wonderland (ou Underland), vai aprender conhecer a si própria, adquirir auto-confiança e enfim poder voltar à vida real preparada para o que a espera. É decepcionante sim. O melhor do filme está na hipnótica direção de arte, na multidão de pequenos achados que tanto enriquecem seus filmes. O melhor de Tim Burton está nos detalhes.

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