quinta-feira, 30 de setembro de 2010

PROGRAMAÇÃO OUTUBRO/2010

AOS DOMINGOS ÀS 18h  NA TORRE O-N - MORADIA UNICAMP
ATENÇÃO: NOS DIAS 10/10 E 31/10 NÃO HAVERÁ SESSÃO POR SER FERIADO PROLOGANDO

03/10A festa nunca termina. DRAMA. Reino Unido, 2002. Direção de Michael Winterbottom. 115 min.



Sinopse: Manchester, 1976. O aluno de Cambridge Tony Wilson (Steve Coogan) está no show dos Sex Pistols. Totalmente inspirado por esse momento-chave da história da música, ele e seus amigos montam um selo chamado Factory. Eles assinam um contrato com o Joy Division (que viria a ser o New Order), com o James e os Happy Mondays, todos artistas seminais de seu tempo. Isso desencadeia um turbilhão de sexo, música e drogas que culmina com o nascimento de um dos dance clubs mais famosos do mundo, o Hacienda, meca de clubbers e adeptos do psicodelismo. Descrevendo a herança musical de Manchester desde a década de 1970 até o início dos anos 90, o filme ilustra a vibração que fez de Manchester o lugar onde todos gostariam de estar.

Crítica: Entre fatos e mitos, a história de "A Festa Nunca Termina" (ou "24 Hour Party People") ficou com os mitos. Ainda bem, segundo aquele que é o fio condutor do filme, Anthony "Tony" Wilson, 52. O diretor inglês Michael Winterbottom ("Bem-vindo a Sarajevo") escolheu para este "A Festa Nunca Termina" _que estréia hoje no Festival do Rio BR_ um dos temas mais universais do pop: a cena musical de Manchester entre 76 e 92 _entre o primeiro show dos Sex Pistols na cidade, testemunhado por 42 pessoas, e a morte da acid house, o gênero que aproximou o psicodelismo rock com a house music. Universal? Não fosse por Joy Division, New Order, Happy Mondays e pela revolução implementada involuntariamente pelo superclube Haçienda, Moby não teria vendido as faixas de "Play" para anúncios publicitários; ou iria demorar pelo menos mais uns dez anos para uma cidade como São Paulo receber um festival eletrônico de porte mundial. Tony Wilson parou no meio disso tudo, como protagonista do filme, porque esteve envolvido diretamente: apresentava um programa de TV, estava no histórico show dos Pistols, fundou a gravadora Factory, "descobriu" Joy Division/New Order/Happy Mondays e criou o Haçienda.
Extremamente falante e orgulhoso de seu papel, Tony Wilson se mostra entusiasta de "A Festa". "O filme é maravilhoso e esperto, mas há coisas que eu acho que não deveriam estar ali. E não é verdadeiro. É uma completa coleção de mentiras", disse à Folha. Por quê? "Porque entre a verdade e o mito, fique com o mito. O irônico é que esse monte de mentiras acabou contando a verdade." Wilson é defensor ferrenho das bandas retratadas no filme e da influência exercida por elas: "Joy Division foi quem deu complexidade ao punk, New Order mudou tudo com "Blue Monday", e os Happy Mondays foram os Sex Pistols de sua época, representavam a classe trabalhadora no poder". (O Joy Division acabou com o suicídio de seu líder, Ian Curtis, em 80; o New Order está por aí, e os Happy Mondays já se foram.) Sobre o Haçienda (1982-1997): "Naquela época, os garotos queriam sair para dançar, mas não tinham onde. Os clubes só tocavam música comercial, ruim. De repente, aparecemos com aquela house music esquisita [acid]".   Um episódio resume o clima do finado selo Factory e do filme. No começo dos 90, foi achado um pedaço de papel que literalmente salvou o New Order da falência com direitos autorais. Era um "contrato" com a gravadora que dizia: "Nós não somos donos de nada; a banda detém tudo".

Fonte: THIAGO NEY, da Folha de S.Paulo. 27/09/2002


Trailler: http://www.youtube.com/watch?v=MyinarfzXUE



17/101984. DRAMA. Reino Unido, 1984. Direção de Michael Radford. 113 min.
 

Sinopse: Depois da guerra atômica, o mundo foi dividido em três estados e Londres é a capital da Oceania, dominada por um partido que tem total controle sobre os cidadãos. Winston Smith é um funcionário do partido e se apaixona por Julia, numa sociedade totalitária onde as emoções são consideradas ilegais. Eles tentam escapar dos olhos "Big Brother", sabendo das dificuldades que teriam que enfrentar.

Crítica: 1984, o filme, nada deixa a dever a 1984, o clássico de George Orwell. E esta é uma das grandes virtudes tanto do roteiro como da direção de Michael Radford. Diante da grandiosidade do livro, seria extremamente fácil que o filme soasse vazio, medíocre. Mas, ao contrário, a adaptação de Radford é provocante. Winston Smith é um funcionário do governo totalitarista liderado pelo "Grande Irmão", uma "entidade" que, através de telões, controla a privacidade de todos os cidadãos do país. Certo dia, ele recebe um bilhete de uma bela garota, Julia, a quem conhecia de vista: "Eu Te Amo", lê, espantado. A partir daí, Winston passa a sair com a garota, desafiando as leis do país, que aboliram o orgasmo e incentivam a inseminação artificial. Winston e Julia desafiam, com seu amor, o próprio Sistema, que prega o ódio como maneira de subjugar seus oponentes. Prazeres simples (porém ilegais), tais como provar geléia com pão e beber café "de verdade", passam a fazer parte da rotina do casal, que redescobre o valor da fidelidade e do calor humano.
Fonte: interfilmes




24/10Vlado: 30 anos depois. DOCUMENTÁRIO. Brasil, 2005. Direção e João Batista de Andrade.  






Sinopse: Morto há trinta anos pela ditadura militar, o jornalista Vladimir Herzog é homenageado neste documentário dirigido por João Batista de Andrade. O longa é um apanhado da vida, carreira e morte de Vlado, contando com depoimentos de amigos e familiares. Entre os entrevistados estão Clarice Herzog, Paulo Markun e Diléa Frate

Crítica: Não é simplesmente um filme sobre Vlado, ou Vladmir Herzog, é um filme pessoal, uma dívida com o destino, assim diz o Diretor João Batista de Andrade. Ele inicia a cena com a praça da Sé em São Paulo e com uma cadeira promete tirar depoimentos sobre todos que viveram ou tiveram sua vida cruzada com Vladmir Herzog. É um filme pessoal, quase todo relatado em primeira pessoa. Com closes fortes, com marcas de expressão, sem maquiagem como um documentário tem que ser. Rugas reais e sorrisos e lágrimas verdadeiras. O Filme é pessoal, mas não teria como não ser. O Diretor afirma que deveu muito ao Vlado por na época não ter a capacidade de transformar aquela dor em algum registro visual. Mas 30 anos depois ele ressalta que uma divida não somente com o amigo com com o país está sendo paga. O filme é mais que pessoal, eu ainda usaria o termo ultra pessoal e de extremo realismo para satisfazer o que o diretor tenha questionado demonstrar. Sobre o que o filme fala? Para quem acha que o Filme é uma biografia de Vladmir Herzog tem a surpresa de encontrar um protesto e um relato direto da ditadura Militar. A introdução toda é feita em cima da figura de Vlado como um personagem histórico, como um resumo de sua vida. Mas não é isto. O pano de fundo, um Brasil conturbado, ganha a grande identidade do filme. Conspirações imaginárias, fuga de Prestes, Detalhes da tortura e ate mesmo um musical de João Bosco aparecem. Nenhuma imagem de torturas, nenhum sangue, ou ao menos nenhuma violência explícita. Toda a violência cresce dos depoimentos comuns e emocionados dos participantes. A violência toda acontece na cabeça daqueles que ali assistem de forma direta e clara o documentário tentando imergir numa das páginas mais negras da historia do Brasil. A edição Antes de tudo é um documentário que tem por objetivo extrair uma certa realidade sob o ponto de vista do diretor. A qualidade das imagens é amadora em sua maioria.Imagens que tremem, experiementalismos em reflexos,mas não tira de parte alguma a atenção do expectador. Mas de pouco isto importa, utilizando-se de filmadoras de mão e filmando a maioria do filme em primeira pessoa. Utilizando-se também de imagens de arquivos como o do culto de repudio na Sé, que nos traz pra dentro do que foi um momento de mudanças e indignação para a sociedade brasileira. Não importa mais a qualidade das imagens e sim o conteúdo com que elas são apresentadas e como conseguiram pegar a verdade, as bocas e olhos que exprimiam verdadeiras imagens sobre o que aconteceu naqueles dias de chumbo. O Diretor se utiliza de capítulos para seqüênciar os fatos ali colocados e dar maior coerência a historia. Destaque para o capitulo intitulado como PRISOES as quais os relatos ganham maior sensibilidade por parte dos entrevistados. Quem fala e faz historia Entre os principais depoimentos temos ilustres figuras nacionais e internacionais que contribuem com memórias para a construção deste quebra-cabeça que foi o caso Herzog. Entre eles aparecem: Clarice Herzog, Ivo Herzog, José Mindlin, Ruy Othake, Dom Paulo Evaristo Arns, Henry Sobel, Fernando Morais, Clara Sharf, Paulo Markun, Aldir Blanc, Alberto Dines, Sérgio Gomes, Diléia Frate, Mino Carta, João Bosco, Rose Nogueira entre outros famosos. Mas também tem muito transeunte mal informado ganhando seus segundos de fama.


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Lula, o Filho do Brasil representará o país na busca por uma vaga no Oscar

"Lula, o Filho do Brasil", de Fábio Barreto - que continua em coma após acidente em 21 de dezembro de 2009 -, foi escolhido hoje para representar o Brasil no Oscar, em 83ª edição, na busca por uma das cinco vagas na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. "Lula" compete com mais 95 filmes.

Na comissão para escolher o filme, a produtora Mariza Leão diz que não pensaram em termos de política nacional selecionar "Lula, o Filho do Brasil". "Em nenhum momento pensamos nisso como representação política, apenas em questões cinematográficas. Consideramos também o prestígio que o presidente tem, hoje em dia, lá fora", afirmou.

Concorrentes internos - Nesse ano, a seleção contou com 23 candidatos: “A Suprema Felicidade”, “Antes que o mundo acabe”, “As Melhores Coisas do Mundo”, “Bróder”, “Carregadoras de Sonhos”, “Cabeça a Prêmio”, “Cinco Vezes Favela - Agora Por Nós Mesmos”, “Chico Xavier”, “É Proibido Fumar”, "Em Teu Nome", “Hotel Atlântico”, “Nosso Lar”, “O Bem Amado”, “O Grão”, “Olhos Azuis”, “Os Inquilinos”, “Os Famosos e os Duendes da Morte”, “Ouro Negro”, “Quincas Berro D’Água”, “Reflexões de um Liquidificador”, “Sonhos Roubados” e “Utopia e Barbárie”, além de "Lula, o Filho do Brasil".

A comissão de seleção foi composta por Cássio Starling Carlos, Clélia Bessa, Elisa Tolomelli, Frederico Hermann Barbosa Maia, Jean Claude Bernardet, Leon Cakoff, Márcia Lellis de Souza Amaral, Mariza Leão Salles de Rezende e Roberto Farias.

Fonte: Revista de cinema on line

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Curso: "Audiovisual em Sala de Aula” em São Carlos - Inscrições até dia 24/09/2010

Na próxima sexta-feira (24) terminam as inscrições para o curso gratuito de “Audiovisual em Sala de Aula” em São Carlos. Direcionado para educadores, professores, bibliotecários e interessados que desejam utilizar o cinema como ferramenta pedagógica em sala de aula, a Prefeitura através da Fundação Educacional São Carlos (Fesc) em parceria com o Ministério da Cultura e com recursos do Fundo Nacional de Cultura oferece este curso que será realizada pelo Núcleo de Produção Digital de São Carlos.


Composto por 20 horas, o curso possui 50 vagas que serão divididas em duas turmas. As aulas terão início no próximo dia 27 e poderão ser realizadas no período da manhã ou da tarde. Nas segundas e quintas-feiras, o curso será das 9h às 11h30. Nas quartas e sextas-feiras, o curso acontece das 14h às 16h30.

No período da manhã, as aulas serão ministradas por Mirian Ou. Formada em Audiovisual pela USP e mestranda em Imagem e Som pela UFSCar, Mirian atua como produtora de cinema e televisão, tendo participado de produções como Novo Telecurso (Fundação Roberto Marinho) e Café Filosófico (TV Cultura).

No período da tarde, as aulas serão ministradas pela produtora de audiovisual Marta Kawamura. Formada em Imagem e Som pela UFSCar, com especialização em Educação Ambiental, Marta atua como diretora e produtora de filmes e vídeos na Magma Filmes e coordena atividades de educomunicação.

Inscrições

Para participar, os interessados devem fazer as inscrições exclusivamente pela internet através do site www.saocarlos.sp.gov.br/npd. A seleção dos participantes será realizada através da carta de intenções e do currículo.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Programação Setembro de 2010 - SEMPRE ÀS 18 HS - TORRE ON - MORADIA UNICAMP

 12/09 – Flor do deserto. DRAMA. Reino Unido, 2009. Direção de Sherry Horman. 120 min.




Sinopse: Waris Dirie (Soraya Omar-Scego / Liya Kebede) nasceu em uma família de criadores de gado nômades, na Somália. Aos 13 anos, para fugir de um casamento arranjado, ela atravessou o deserto por dias até chegar em Mogadishu, capital do país. Seus parentes a enviaram para Londres, onde trabalhou como empregada na embaixada da Somália. Ela passa toda a adolescência sem ser alfabetizada. Quando vê a chance de retornar ao país, ela descobre que é ilegal da Somália e não tem mais para onde ir. Com a ajuda de Marylin (Sally Hawkins), uma descontraída vendedora, Waris consegue um abrigo. Ela passa a trabalhar em um restaurante fast food, onde é descoberta pelo famoso fotógrafo Terry Donaldson (Timothy Spall). Através da ambiciosa Lucinda (Juliet Stevenson), sua agente, Waris torna-se modelo. Só que, apesar da vida de sucesso, ela ainda sofre com as lembranças de um segredo de infância.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=eJ8XlBbX-xo

Critica: Rubens Ewald Filho. Disponivel em http://noticias.r7.com/blogs/rubens-ewald-filho
Existem temáticas tão fortes, que para não serem rejeitadas pelo público, precisam estar vestidas de uma aparência mais suave, mais palatável.

É o caso desta interessante versão de um best-seller de Waris Dirie, que ao passar para o cinema pelas mãos de uma americana radicada na Alemanha, Sherry Horman (tem 17 outros trabalhos para a TV e cinema mas é desconhecida aqui), precisou de uma embalagem sofisticada e romântica.
Algumas vezes já ouvimos falar da absurda e revoltante prática de certas nações, no caso, a Somália, que quando uma criança feminina tem três anos de idade, é levada para encontrar uma mulher que lhe corta, ritualisticamente, o clitóris e costura a vagina, de forma que ela só poderá ter relações com o marido, que terá que usar uma faca e nunca poderá ter prazer sexual.

Quando são obrigados a voltar ao país, ela foge novamente e vai vivendo nas ruas até conseguir fazer amizade com uma inglesa vendedora de loja de sapatos, feita por Sally Hawkins, que faz tudo muito parecido com o filme anterior dela, Simplesmente Feliz.

Aos poucos vão se revelando seus segredos e ela consegue impressionar um famoso e excêntrico fotógraf(Spall, outro da turma de Mike Leigh), que a leva para uma carreira de modelo, com as dificuldades com passaportes, vistos e tudo o mais, levadas como comédia.
A história de sua castração vai ficar para o final, porque se não tivesse esse jeito de conto de fadas seria quase insuportável. Mas é uma denúncia importante de existir e acontecer, tão estúpida que é difícil de acreditar. Por isso mesmo que este Flor do Deserto é importante e deve ser apoiado.

Mas pela primeira vez, ao menos no cinema comercial, se conta esta história a partir da vida real de uma negra alta e bonita. Waris, que é vivida por uma modelo, belíssima, chamada Liya, que vem da Etiópia, já esteve em O Senhor da Guerra e O Bom Pastor e é modelo de sucesso. Aliás, uma escolha perfeita para o papel.
Além de tudo, ela é boa atriz, natural, espontânea e faz tudo certo. Acontece que Waris conseguiu fugir de casa - e de um casamento arranjado com um homem mais velho - e ir trabalhar com parentes distantes, como serva de uma família que vivia na Inglaterra, como diplomatas



19/09 – Noticias de uma guerra particular. DOCUMENTÁRIO. Brasil, 1999. Direção de João Moreira Salles e Kátia Lundu. 57 min.




Sinopse: Retrata o cotidiano dos moradores e traficantes do morro da Dona Marta, no Rio de Janeiro, em Notícias de uma Guerra Particular. Resultado de dois anos de entrevistas (entre 1997 e 1998) com personagens que estão de alguma forma envolvidos ou vêem de perto a rotina do tráfico, o documentário contrapõe a todo o momento as falas de traficantes, dos policiais e dos moradores. Notícias de uma Guerra Particular traz cenas desconcertantes, como o garoto de dez anos que diz ter prazer em estar perto da morte, o policial que se orgulha em matar, e as crianças que sabem de cor os nomes das armas e suas siglas.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=zp7KVlft-54

Critica: Marcelo Janot - 14/12/2005. Disponivel em http://www.criticos.com.br/
No momento em que o Rio de Janeiro vive a maior crise de violência de sua história, chega às locadoras um DVD que talvez possa ser considerado um dos lançamentos cinematográficos mais importantes do ano: antes restrito a exibições muito esporádicas, o documentário Notícias de Uma Guerra Particular, de Katia Lund e João Moreira Salles, realizado em 1998/99, agora está disponível para aqueles que quiserem entender um pouco mais a fundo porque vivemos à mercê do medo e da insegurança, no meio de um triângulo nefasto composto por políticos demagogos, polícia corrupta e bandidagem inescrupulosa.

A “guerra particular” a que o título se refere, extraído de uma frase do ex-capitão do BOPE Rodrigo Pimentel, é o combate sem trégua entre policiais e traficantes nas favelas cariocas. O filme, realizado sob encomenda da TV francesa, causou impacto na época em que foi lançado por permitir que o espectador do asfalto tivesse acesso ao que se passa no morro sem a abordagem sensacionalista e maniqueísta oferecida pelos veículos de imprensa. Katia e João ouviram do já citado capitão do BOPE ao gerente de tráfico do Morro Dona Marta, Adriano. Depoimentos como o de Gordo, um dos fundadores do Comando Vermelho, de Paulo Lins (em sua primeira entrevista, muito antes do sucesso de Cidade de Deus) e do chefe da Polícia Civil, Helio Luz, traçam um histórico do desenvolvimento do tráfico nas favelas e como ele se encaminhava rumo à barbárie que vemos nos dias de hoje.
Embora algumas das imagens (muitas de arquivo de TVs ou emprestadas de outros documentários) impressionem, como a do jovem soldado do morro apresentando sua farta artilharia, ou a do confronto entre policiais e traficantes à luz do dia, é nos depoimentos que reside a força de Notícias de Uma Guerra Particular, e que infelizmente nos faz perceber, seis anos depois, que não é com atitudes desesperadas tipo blindar o carro ou defender o porte de armas que vamos viver num Rio de Janeiro mais seguro.
Os extras do DVD incluem a ótima faixa de comentário, em que é possível rever o filme e entender a estrutura e os bastidores do documentário com Katia Lund e João Moreira Salles respondendo as perguntas inteligentes do cineasta Eduardo Coutinho e do nosso companheiro de Críticos.com.br, Carlos Alberto Mattos. Estão presentes também a íntegra de algumas entrevistas realizadas para o filme, inclusive a do General Nilton Cerqueira (que ficou de fora), com destaque absoluto para a do músico, “filósofo” e morador da favela Adão Xalebaradã, que virou até tema de curta-metragem do irmão de João, Walter Salles.
Como se isso tudo não bastasse, o filé mignon vem agora: o DVD traz também o documentário Santa Marta: Duas Semanas no Morro, de Eduardo Coutinho, rodado em 1987. Comparando os dois filmes (que têm um intervalo de 11 anos) e os dias de hoje, é assustador ver como a situação se deteriorou. O vídeo de Coutinho deixa muito claro como a força que o tráfico adquiriu nos dias de hoje se deve, em grande parte, à deterioração da relação entre a polícia e os moradores da favela. Se há quase 20 anos, como mostram os depoimentos dos favelados, a polícia já cometia todo tipo de abuso contra os moradores do morro, não é de se estranhar que ao longo desse tempo os traficantes tenham assumido o papel de “defensores da comunidade”, e essa evolução está bem clara nos dois documentários.
Ao mostrar o cotidiano dos moradores da favela, Santa Marta: Duas Semanas no Morro nos revela um período em que quase não se falava da presença de traficantes e “chefes do morro”, como se eles simplesmente não existissem. O foco das reclamações dos moradores estava no tratamento ruim que eles recebiam da polícia em suas incursões ao morro e também na esperança de um futuro em que as desigualdades entre a favela e o asfalto fossem um pouco menores. Um jovem franzino de olho meio puxado elogiava as meninas do morro, mais “liberais”, e reclamava que gostaria de ser desenhista profissional “caso as universidades dessem chance aos pobres”. Este mesmo jovem se transformaria alguns anos depois em Marcinho VP, chefe do tráfico do Dona Marta, e foi com ele que João Moreira Salles conversou e pediu autorização para poder rodar Notícias de Uma Guerra Particular. Acreditando que Marcinho ainda poderia se regenerar e voltar a ser aquele de 1987, lhe ofereceu uma bolsa mensal para que ele escrevesse um livro e largasse o tráfico. O livro nunca foi escrito, Marcinho foi preso e em 2003 foi encontrado morto dentro de uma lixeira no presídio de Bangu 3, onde cumpria pena.



26/09 – Alice no País das maravilhas. AVENTURA. EUA, 2010. Direção e Tim Burton. 108 min.




Sinopse: Diferente da história já conhecida, dessa vez Alice (Mia Wasikowska), ao 17 anos, vai a uma festa vitoriana e descobre que está prestes a ser pedida em casamento perante centenas de socialites. Ela então foge, seguindo um coelho branco, e vai parar no País das Maravilhas, um local que ela visitou há dez anos, mas não se lembrava. Lá conhece personagens como os irmãos gêmeos. Tweed le-Dee e Tweedle-Dum, o Gato Risonho, a Lagarta, toma chá com a Lebre Maluca e o Chapeleiro Louco e participa de um jogo de cricket com a Rainha de Copas.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=uJqMRLFezbo&feature=related

Critica por Demetrius Caesar, em 09/03/2010. Disponivel em http://www.cineplayers.com/
Alice no País das Maravilhas não é o grande filme que muitos gostariam porque o diretor Tim Burton nunca foi muito bom em narrar histórias. Seus filmes em geral têm roteiros ruins e a ação não é seu forte, mesmo que algumas obras, como Edward Mãos de Tesoura, as tramas sejam belas. Ao contar a superconhecida história de Alice, as cenas de ação não funcionam e o final, com Alice tendo de matar um monstro gigantesco, Jabberwocky, simplesmente não convence - mas, sinceramente, quem se importa?

Em alguns momentos, os dois universos, de Lewis Carroll e de Tim Burton, unem-se de maneira interessante. Só não vá esperando os maneirismos, as facilidades, os reducionismos e os clichês de um James Cameron em Avatar ou mesmo o gótico anódino e asséptico da Hogwarts de Harry Potter. A Wonderland de Tim Burton não é aprazível nem foi feita para agradar. Alice dificilmente encontrará lá um ambiente idílico e propício para a fuga: seus melhores amigos são seres para lá de bizarros, na maioria das vezes viciados. Caberá a Burton humanizá-los, e essa é uma das melhores coisas do filme.
Helena Boham Carter e o gato de Alice, Cheshire, são os maiores destaques. No caso do gato, é o melhor que o 3D trouxe ao filme. Tim Burton, desconfiado da nova tecnologia, não quis filmar com as famosas câmeras 3D de Avatar e Os Fantasmas de Scrooge (de Robert Zemeckis). Fez tudo no tradicional e depois convertou o resultado final. Talvez por isso por vezes a tecnologia atrapalha mais do que ajuda na narrativa e em muitos casos, bastante óbvia, incomoda. Nesse caso, a imersão de Avatar faz mais sentido: o 3D, pelo menos por enquanto, funciona melhor em filmes que envolvam lutas, explosões, guerras – o chamado "cinema físico.
Na adaptação, feita por Linda Woolverton, roteirista de A Bela e a Fera e O Rei Leão, a maior mudança é a idade da protagonista, agora com 19 anos. É um dos grandes acertos do filme, pois o livro é visto por muitos como cheio de insinuações à pedofilia (Lewis Carroll era fotógrafo e adorava registrar garotinhas). Esse tipo de peso poderia arruinar a obra. Tim Burton deixou as muitas insinuações aos alucinógenos, seja no fumacê que Absolum, a larva azul sábia (voz de Alan Rickman), solta sem parar, seja nas poções e chás esquisitissímos tomados pelos personagens.
Helena Boham Carter, com sua cabeçona (interpretava sempre para uma câmera especial para deformar sua figura), tem o melhor da animação, da computação gráfica e dos efeitos especiais em si e ao seu lado. Tim Burton, seu marido, com quem tem dois filhos, utilizou vários processos de animação, mesmo com massinha, para compor a aberrante corte da Rainha (mistura da Rainha de Copas, de As Aventuras de Alice nos País das Maravilhas, e a Rainha Vermelha, de Alice Através do Espelho, a continuação do primeiro livro – em ambos é baseada a história).
Burton disse ter visto mais de 60 versões, entre filmes, seriados ou quadrinhos, de Alice nos seus 55 anos de vida. Reclama que a maioria não funcionou justamente por serem muito apegadas ao original e muito "literárias". Preferiu propositalmente apegar-se aos personagens e dar-lhes sua visão pessoal. Pode ser que a fraqueza do filme esteja aqui, ao não focar na narrativa, mas é com certeza um de seus pontos fortes também: a maneira como Burton apresenta todos, sempre compreensivo e interessado, mostrando as bizarrices sem nenhum constrangimento, como os mortos de A Noiva Cadáver, perfeitamente bem no que restou de suas peles. E Johnny Depp ajuda, com seu misto de ternura e loucura, nesse processo de humanização.
Burton prefere os diferentes. Injeta neles uma carga de humanidade que os tira dos estereótipos. Neste Alice in Wonderland, dá contornos impensáveis seja até mesmo para a imaculada Rainha Branca (Anne Hathaway). Seus monstros têm coração, seus loucos, lucidez. Se a Rainha Vermelha é má é porque sofre de solidão e pelo fato de negar sua condição física. Os outros personagens não têm esse tipo de problema – riem de si próprios e suas limitações.
Como já notou parte da crítica, de todos os personagens, justamente Alice é que teve o desenvolvimento menos satisfatório. Em pânico por ter de se casar, Alice foge e mais uma vez cai na toca do coelho. Durante sua estadia em Wonderland (ou Underland), vai aprender conhecer a si própria, adquirir auto-confiança e enfim poder voltar à vida real preparada para o que a espera. É decepcionante sim. O melhor do filme está na hipnótica direção de arte, na multidão de pequenos achados que tanto enriquecem seus filmes. O melhor de Tim Burton está nos detalhes.