quinta-feira, 4 de novembro de 2010

PROGRAMAÇÃO NOVEMBRO DE 2010

ATENÇÃO: NOVO HORÁRIO: 19H...por causa do horário de verão!!

07/11A partida. DRAMA. Japão, 2008. Direção de Yojiro Takita. 130 min.


Sinopse: A Partida segue a história de um jovem que começa a trabalhar como "Nokanshi", uma espécie de agente funerário, responsável por preparar o corpo, colocá-lo no caixão e enviar a pessoa que morreu para o outro mundo, agindo como um guardião entre a vida e a morte. Porém seu trabalho é desprezado tanto por sua esposa quanto pelas pessoas a sua volta, mas através da morte é que começa a descobrir o verdadeiro sentindo da vida.

Crítica: A premiação do Oscar desse ano causou surpresa ao ignorar o francês Entre os Muros da Escola e o israelita Valsa com Bashir – duas inovadoras obras-primas – na categoria de filme de língua estrangeira, premiando o candidato japonês, até então pouco conhecido. É, entretanto, compreensível tal fato, visto que A Partida é um filme, ainda que narrativamente convencional e, de certa forma, previsível, que acumula muitos pontos positivos, sendo um ótimo drama de temática diferenciada.

O filme se concentra em Daigo Kobayashi (Masahiro Motoki), um ex-violoncelista, que possuía um trabalho socialmente elevado de tocar numa grande orquestra em Tóquio, que, de repente, é dissolvida por seu dono. Daigo, precisando de dinheiro, retorna à sua cidade natal, junto com a esposa, no norte do Japão, e lá consegue um inusitado emprego: torna-se um “nokanshi”, uma espécie de coveiro especial, mestre em lavar e vestir cadáveres. Essa função advém de uma antiga tradição japonesa, de deixar o morto limpo, belo e bem tratado para seu último momento, função antes exercida pelas famílias dos mortos, mas já meio esquecida e agora por conta de profissionais. Com esse emprego, Daigo consegue o dinheiro que estava precisando, mas esconde seu emprego da mulher e amigos, pois tal função é vista como algo vergonhoso e, no início, até ele assim a vê, como algo desprezível, o toque com o dejeto mortal.
É interessante observar como essa mudança na vida do protagonista engloba vários aspectos. É uma volta para a cidade natal, mas, além disso, uma volta para o passado, para o contato com pessoas de outrora e com traumas de outrora – o relacionamento mal resolvido com o pai ressurge de forma decisiva. Essa volta também é uma representação quanto à nova função de Daigo: em um Japão cada vez mais “moderno” e ocidentalizado, ele passa a lidar com uma antiga tradição tipicamente nipônica. Também, paradoxalmente, é uma época de novidade para Daigo, de lidar com a frustração no trabalho, de se adaptar, de refletir sobre sua vida e seu passado, mas também sobre a vida e a morte.A análise que o filme oferece sobre a morte, aliás, é muito rica. Longe de clichês como “a vida é curta e é preciso aproveita-la” e “a morte é inevitável”, a trama, inicialmente, olha para a morte pelo lado material, tendo Daigo encarando as situações de seu trabalho como insólitas, ao lidar com corpos já sem vida. A morte é vista como algo plenamente corporal e o trabalho de nokanshi como um mero cuidado final com o corpo de um animal – e há uma comparação indireta muito boa, quando, após realizar um trabalho, Daigo chega em casa e há um frango morto, aos pedaços, em uma vasilha, esperando ser preparado e o protagonista fica nauseado. Mas, conforme o personagem vai se adaptando à profissão, mais ele começa a perceber o sentido e a importância desta. A morte deixa de ser vista como plenamente material, e o diretor passa a extrair poesia e beleza dos últimos momentos do corpo na Terra. O trabalho do nokanshi é então compreendido como uma função nobre, que “limpa” o morto e dá-lhe a beleza que era sua em vida, deixa-o da melhor forma possível para que sua partida deste mundo seja digna, para seu último adeus para a família seja belo. Várias cenas, em que vemos a relação da família com o morto que está sendo “preparado”, são emocionantes ao mostrar a verdade do relacionamento entre esses, seja como um adeus triste e lamentador, seja como um momento de aceitação da pessoa como ela foi em vida ou como uma despedida feliz por terem vividos juntos e sido felizes.
A forma como as pessoas fora desse núcleo vêem essa profissão também é algo curioso. Para elas, trata-se de um ofício vergonhoso, indigno e absurdo, o que implica uma visão negativa por parte destes em relação ao contato entre mortos e vivos, bem como uma negação de uma antiga tradição cultural. Esses fatores, contrastando com o amor de Daigo pela música, criam no protagonista um grande embate, à medida em que ele está descobrindo-se em um novo emprego, mas ainda sente falta de sua carreira como violoncelista, carreira muito mais respeitada e bem vista.
Ainda apostando no drama, o filme engloba a questão do relacionamento mal resolvido entre pai e filho, a distância entre eles e, em certo ponto da trama, figura uma outra tradição interessante, a da comunicação através de pedras, em que os sentimentos e significados são passados por pedras que figuram a mensagem.
Tudo isso é conduzido pelo diretor de forma extremamente cuidadosa, sensível, sensata e firme. A direção aposta em um ritmo lento, mas nunca arrastado ou irreal, em planos fixos e observadores e em uma misé-em-scene baseada nos sentimentos envolvidos, no intuito de transmitir a sensibilidade e a verdade de cada momento. O diretor ainda coordena bem seu elenco, extraindo de cada ator a interpretação na medida certa, conseguindo um resultado equilibrado e harmônico. Entretanto, exagera em certos momentos em que pensa estar extraindo uma poesia visual, mas na verdade está deixando a cena carregada e melodramática.
Um dos pontos contestáveis do filme é a sua estrutura um tanto quanto previsível e, às vezes, exagerada em sua emotividade, esbarrando em clichês e melodramas. A trilha sonora, por mais bonita e significativa, às vezes é excessiva e pleonástica. A fotografia, por outro lado, consiste em tons pastéis e um pouco dessaturados e na iluminação farta, funcionando muito bem dentro da proposta estabelecida.
No todo, A Partida é um drama de estrutura não-inovadora, mas otimamente bem realizado, que consegue levantar pontos e questões interessantes e sensíveis de forma diferenciada, além de mostrar um panorama interessante sobre um ato cultural japonês, cheio de beleza e poesia, e consistir em uma análise sobre a morte, mas também sobre a vida, as mudanças e o passado. Fonte: http://www.culturadebolso.org/

Trailler:http://www.youtube.com/watch?v=vNV5SxbTvKA



21/11 Estômago. Comédia. Brasil, 2008. Direção de Marcos Jorge. 113 min


Sinopse: é a história da ascensão e queda de Raimundo Nonato, um cozinheiro com dotes muito especiais. Trata de dois temas universais: a comida e o poder. Mais especificamente, a comida como meio de adquirir poder. E pode ser definido como “uma fábula nada infantil sobre poder, sexo e culinária.

Crítica: Pense num filme que mistura com inteligência todos os ingredientes que o Brasil e seu cinema têm de melhor –não necessariamente de bom, mas que provoque o espectador, aguce os sentidos e faça reagir. “Estômago”, estréia de Marcos Jorge na direção de um longa de ficçãotem tudo isso. E ainda vem acompanhado de muita coxinha.
Premiado nos festivais internacionais de Punta Del Este e Rotterdam, além de ter levado quatro troféus no Festival do Rio 2007, “Estômago” conta a história de Raimundo Nonato (vivido pelo genial João Miguel, de “Cinema, aspirinas e urubus”), um nordestino que chega a São Paulo sem lenço, documento nem dinheiro, e acaba ganhando o emprego de cozinheiro/garçom/faxineiro em um boteco do centro.

Raimundo é explorado pelo chefe, que não lhe paga pelo trabalho, já que dá a ele um quartinho imundo para dormir e refeições diárias. Mas o talento para cozinhar logo aparece, e a clientela do boteco aumenta a todo vapor, o que chama a atenção do dono de um restaurante da vizinhança. Raimundo ganha um emprego novo, onde aprenderá a cozinhar pratos muito mais elaborados do que arroz, feijão, coxinha e pastel. É nesse ponto do filme que olhos mais atentos podem perceber os primeiros sinais de mudança do protagonista –ou apenas achar graça– quando ele mente ao novo chefe, de olho no polpudo salário, que terá de pensar na proposta, já que ganha bem, inclusive com benefícios. Raimundo pode até ter chegado a São Paulo ingênuo, mas não levará muito tempo até que aprenda a viver e lidar com o poder –e a conquistá-lo para si.
Ao mesmo tempo em que o espectador assiste ao crescimento profissional de Raimundo, que vai ajeitando a vida ao lado da prostituta glutona Íria (Fabiula Nascimento), lhe é apresentada uma outra trama, igualmente saborosa: o protagonista está na cadeia, tentando conquistar atrás das grades tudo o que havia levado meses para conseguir fora de lá. E é transformando as gororobas cheias de vermes da prisão em saborosos rangos que ele consegue uma cama e um lugar entre os protegidos da liderança do xadrez.
Minuto a minuto, enquanto assistimos à derrocada de Raimundo, a história vai ficando mais intrigante, dramática e em alguns momentos ainda consegue ser bem-humorada. O que, afinal de contas, levou o cozinheiro àquela cela, justamente quando tudo parecia estar indo bem? Fonte: Débora Miranda, do G1.

Trailler: http://www.youtube.com/watch?v=FimMphR-rEE

Mais detalhes: http://www.estomagoofilme.com.br/



28/11A liberdade é azul.. França, 1993. Direção de Krzysztof Kieslowski. 137min.  


Sinopse: Após um trágico acidente em que morrem o marido e a filha de uma famosa modelo (Juliette Binoche), ela decide por renunciar sua própria vida. Após uma tentativa fracassada de suicício, ela volta a se interessar pela vida ao se envolver com uma obra inacabada de seu marido, que era um músico de fama internacional.

Crítica: Não existe dor maior que um ser humano pode sentir do que perder um filho. Não se trata de especulação, mas de um fato concreto; quem tem filho sabe que o simples pensamento sobre a possibilidade de nunca mais vê-lo já é capaz de causar arrepios. O que dirá, então, de perder não apenas um filho, mas também o marido, durante um acidente de automóvel absolutamente estúpido e banal? É isso o que acontece com Julie (Juliette Binoche), logo no início de “A Liberdade É Azul”, o belo filme de Krzysztof Kieslowski que abre a famosa Trilogia das Cores, composta também por “A Igualdade É Branca” e “A Fraternidade É Vermelha”.

A escolha do tema, em si, já é de uma ousadia quase herética do diretor. Quem mais pensaria em associar um sentimento aparentemente tão positivo e promissor, como a liberdade, a um acontecimento tão doloroso como a morte das duas pessoas que mais se ama? A abordagem do tema é, como quase todo o cinema de Kieslowski, surpreendente e inusitada, mas também intensa, delicada e sobretudo humana, muito humana. A lição que o filme nos dá – e a obra do cineasta polonês está repleta de lições, ainda que “ensinadas” sem nenhum cacoete didático – é simples e até banal, mas certamente verdadeira: o destino pode sortear as pessoas de muitas formas, inclusive com muita dor, e não há o que fazer a não ser viver cada situação que se apresenta com intensidade e honestidade.
Na ótica de Kieslowski, a morte da filha e do marido liberta Julie. Há nessa afirmação uma crítica sutil à instituição do casamento e à família. As duas coisas funcionam, quando analisadas sob esse ângulo, como amarras sociais; são hábitos culturais que estão profundamente arraigados no homem, talvez para combater a solidão que nos acompanha a vida inteira. De qualquer forma, a experiência de Julie é absolutamente radical. Após construir sua vida ao redor de dois indivíduos profundamente amados, ela vê de repente tudo desabar por causa de um vazamento no sistema de freios do carro novinho da família. Uma estupidez possível.
A dor dela é palpável; em certos momentos Julie pára sufocada, com dificuldade até para respirar. Mas é uma reação muda, pois ela não consegue chorar (“eu choro pela senhora”, diz em certo momento a criada da família, em cena belíssima). Não consegue nem mesmo se suicidar; tenta engolir um vidro inteiro de pílulas, ainda no hospital, mas não tem coragem. A cena é emocionante, e explica perfeitamente a radical decisão seguinte da personagem, em torno da qual todo o filme será organizado: Julie decide cortar relações com a vida, cometer uma espécie de suicídio a longo prazo. Doa os móveis, queima as lembranças do marido e da filha, abandona a casa e os amigos, deixa de trabalhar. Aluga um pequeno apartamento em Paris e decide esperar a morte chegar. Só que mesmo na vida mais acética, como mostra Kieslowski, o sentimento – aquilo que nos faz humanos – dá um jeito de brotar.

Um detalhe interessante do filme é o visual requintado, bem diferente do trabalho normal do diretor, que é mais despojado. A fotografia de Slavomir Idziak carrega nos tons azulados e capricha nas composições, algo incomum na filmografia do diretor; um bom exemplo é a tomada, logo no início, que mostra o vazamento no freio do carro em primeiro plano, com a filha de Julie indo fazer xixi na beira da estrada, ao fundo. As cenas com Julie na piscina, uma imensidão azul com iluminação fluorescente, traduzem perfeitamente a protagonista: gelada, triste. Vale lembrar que a palavra “blue”, em inglês, significa tanto “azul” quanto “sentimento de tristeza”. A escolha da história de Julie para ilustrar o tema da liberdade, bem como a cor associada ao sentimento, foram perfeitas.
Outro marco importante do filme realizado através de detalhes estéticos é a utilização da música de Zbigniew Preisner, um colaborador constante. Cabe aqui uma informação importante: o marido de Julie era um maestro famoso e compunha uma sinfonia para ser executada na cerimônia de unificação da Europa, trabalho que fica incompleto porque a mulher decide destruir as partituras. Mas o trecho mais emocionante da sinfonia fica gravado na cabeça dela, e é executado todas as vezes em que as memórias da família afloram; nesses momentos, a tela fica negra, como se a personagem sofresse um blackout emocional. Ou talvez Kieslowski quisesse preservar a intimidade de Julie naquele momento de dor suprema. As duas soluções são válidas, e muito bonitas.
“A Liberdade É Azul” é mais triste e doloroso do que outros filmes do cineasta. É verdade que a obra de Kieslowski está impregnada de um sentimento perene de melancolia, mas nesse filme existe dor, e ela é contundente. Outra característica do diretor, contudo, foi inteiramente preservada: é impossível antecipar os rumos da trama. Em sua nova vida, Julie vai ter que reaprender a usar os sentidos, bem como descongelar os sentimentos, mas isso ocorre paulatinamente, e de maneiras completamente inesperadas.

Perceba, no entanto, a sutileza e a inteligência de Kieslowski ao mostrar o relacionamento (frio, porém fundamental) entre Julie e a mãe, que está internada em um asilo. A velhinha nem sequer reconhece a filha, mas passa os dias assistindo a vídeos de gente de meia idade praticando esportes radicais, como bungee jumping. A mãe de Julie nem sabe, mas celebra a vida de uma forma que a filha não consegue. É interessante notar, portanto, que embora jamais converse com ela sobre isso – na verdade, não conversa com ninguém sobre assuntos pessoais –, são os poucos momentos com a mãe que insinuam a Julie uma mudança de comportamento.

Para os cinéfilos mais apressadinhos, que podem não ver muito sentido na trajetória errática da protagonista, a dica é ter um pouco de paciência e assistir ao filme até os créditos. Somente no final toda a trajetória de Julie vai fazer sentido. Aliás, quando o filme acaba – de uma maneira surpreendente, apenas para confirmar a regra de imprevisibilidade dos filmes do diretor –, dá até para dizer que “A Liberdade É Azul” é otimista. Dolorosamente otimista. A título de curiosidade: atente para a aparição-relâmpago do casal do filme seguinte da trilogia, “A Igualdade É Branca”, em uma rápida cena no tribunal.
Fonte: http://www.cinereporter.com.br/dvd/liberdade-e-azul-a/

Trailler: http://www.youtube.com/watch?v=XHv6K1JVZPE&feature=related












Nenhum comentário:

Postar um comentário